Tudo que se quer no mundo é saber o quer vai acontecer, e, para isso, nada como uma boa cartomante. Mas será que ainda existe alguma? Eu tive a minha, que morava num apartamento modesto, num bairro modesto, e chegava à sala passando por uma cortina de contas ordinária e usando um vestido de seda estampado. O baralho era velho, sebento, e Jandira – esse era seu nome – muito simpática. Embaralhava as cartas devagar, olhando dentro dos meus olhos, mandava que cortasse com a mão esquerda e a primeira coisa que dizia era: “Estou vendo um homem na sua vida, mas ele está longe; ainda não chegou ou vocês brigaram?” Elementar: mulher que procura a cartomante é porque as coisas não vão bem no amor.

Aí, continuava: “É preciso tomar cuidado com uma mulher que está te afastando dele e quer te fazer mal”.

Se aparecesse a dama de ouros, era loira; se fosse a de pau, morena. Cartomante era – ou é – coisa de mulheres. O que elas, de todas as idades, queriam saber é se o homem que amavam ia voltar. E a resposta das cartas era sempre sim. No final da consulta, chegava a hora de confirmar as previsões. Jandira embaralhava as cartas de novo, pedia para cortar e separar em três montinhos – sempre com a mão esquerda. Depois de um momento de suspense, dizia que sim, ele ia voltar, mas era precisa tomar cuidado com a tal mulher. E a gente saía toda feliz. E ainda tinha as simpatias. Uma delas mandava cortar uma mecha do cabelo do homem amado enquanto ele estivesse dormindo, botar num saquinho feito com um lenço roubado (dele) e usar dentro do sutiã durante 15 dias. Outra era assim: você devia acender duas velas e colocar bem juntinhas num pires com mel. Se fizesse isso todos os dias, estava garantindo um futuro cheio de felicidades. Ma atenção: as velas tinham que ser acesas à meia noite em ponto, e a simpatia só daria certo se elas queimassem até o fim. Quanta ingenuidade, quanta inocência… Como era bom.

Mas o mundo mudou. Vieram os psicanalistas, os astrólogos, e ninguém mais acreditou nas cartas; as cartas que – diziam – não mentem jamais. Com todo o respeito a doutor Freud, no tempo das cartomantes a vida era mais romântica. Hoje as pessoas olham para o passado – o delas e o dos outros – para tentar compreender o presente. Os traumas da infância justificam as atuais neuroses, e nas mesas de botequim todos se sentem capazes de dar palpites, desde o “Ele sente culpa porque a mãe sofreu” até “É medo de encarar uma mulher liberada como você”; e por aí vão, no embalo do chopinho, decifrando a natureza humana.

Ninguém quer se comprometer. Se você vai a um médico com dor de cabeça – 500 reais -, ele indaga sobre as doenças que já teve, pede um monte de exames e diz que diagnóstico só depois dos resultados. Quando pergunta ao amigo se ele acha que você vai conseguir o trabalho como que mais sonha, ele responde que não é advinho. Ah, que saudade das cartomantes      que sempre sabiam tudo e sempre davam esperanças. E melhor, elas só diziam o que queríamos ouvir.