Por Vera Salvo.

Nosso paladar, olfato e tato, à medida que vamos vivendo no piloto automático, neste mundo ansiolítico e estressante, vêm adormecendo. Já não escolhemos. Somos escolhidos. Muitas vezes, comemos para viver, pois a alimentação tornou-se momento de repor nutrientes de forma rápida a fim de permitir voltar rapidamente às atividades laborais, ou, no outro extremo, optamos por viver para comer, utilizando o alimento como forma de compensação para as frustrações, uma válvula de escape emocional, para aplacar nossas dores.

O excesso de açúcar e gorduras presentes nos alimentos industrializados, altamente calóricos e repletos de substâncias desconhecidas em nosso dia a dia, são uma maneira de anestesiar os sentidos e não apenas nutrir. Vamos tentando adoçar a vida, preencher lacunas, tapar buracos.

Nossa alimentação está cada vez mais “medicalizada”, cada vez mais restrita; sem glúten, sem lactose, sem gordura, sem sabor, sem prazer, cada vez mais desumanizada e recheada de muita culpa.

Em contraposição a este estado de fuga, de compensação nem sempre saudável, o comer com atenção plena / consciente (mindful eating) surge como uma forma de despertar a sabedoria interna do corpo, permitindo a reconexão conosco, trazendo uma percepção diferente de si, propiciando o despertar dos sentidos e, a partir do alimento, do seu preparo e consumo, permitir autoconhecimento. Sim, pois a alimentação é um tema transversal de saúde e educação e, baseada em Mindfulness, opera-se a mudança de dentro para fora, pois só assim ela pode ser duradoura!

É pela experiência vivencial e não pela cognição que menos pode ser mais! Não é cognitivo, elemento suficiente para a mudança do comportamento, mas a experiência vivencial que guarda a memória em nosso corpo que pode ser capaz de realizar as revoluções na forma de pensar e de agir em relação à alimentação.

Que você possa adicionar mais Mindfulness (atenção plena) aos nossos dias, mais compaixão e menos culpa em relações pessoais e com os alimentos; que você possa cultivar a gratidão pelo que a natureza nos oferece, a diversidade e a disponibilidade de alimentos que possuímos, permitindo que a cada dia possamos fazer múltiplas escolhas!

Que mais do que medicamento, como dizia Hipócrates, possa o alimento, presente na vida do ser humano desde a sua concepção até a sua morte, com seus múltiplos significados sociais, antropológicos, emocionais e familiares, ser na vida de todos: prazer, educação, possibilidade, encontro, acolhimento, conexão, comunhão e cuidado!