Poema enviado por Dulce Toledo.

Não te desejo sorte, por que a sorte rouba a nossa alma, coisifica-nos, tornando-nos peças no tabuleiro do aleatório, como se fôssemos dígitos de probabilidade.

DESEJO que você mude a sua sorte, qualquer que seja ela, como ser divino feito carne, de desígnios divinos, capaz de atos e realizações divinos.

Não te desejo amor. Vi que o substantivo engessa o significado, constituindo o amor numa espécie de anjo que, se você for bem comportado, te visitará no sono, derramando-lhe o éter celestial da bondade. Note que o substantivo, neste caso, não depende de você.

DESEJO, antes, que você ame, sem medidas. Porque o verbo amar, contrariamente ao substantivo, só se move através de você, seja no teatro da Grande paixão, ou no ato mínimo de um “bom dia” resignificado.

Não te desejo saúde. Porque a saúde que nos vendem é mero motor de longevidade, um cuidado para não morrer. A saúde, como um verbo, deve resultar de uma relação saudável com você mesmo, neste momento, fugaz instante, único que existe.

DESEJO, portanto, que você seja a saúde do seu corpo, um belo templo, onde os vitrais coloridos da sua auto-estima iluminem as celebrações das manhãs, saudando cada dia (dando-lhe saúde).

Não te desejo Paz. Porque a Paz como estágio ideal é inatingível.

DESEJO que você pacifique, agenciando soluções de Paz, como mudar o tom de voz, ou aprender mais um beijo. Que a Paz do seu espírito não seja a solução imposta pelo seu ego, ou seus agentes, seja o padre, o pastor, livros-texto, gurus, ou qualquer Salvador de plantão. Que ela seja resultado do soerguimento moral e ético de alguém com coragem para se olhar no espelho, ver-se responsável por seus próprios erros, merecedor de seus acertos, senhor do seu próprio destino, pelo simples fato de se achar mulher ou homem.

DESEJO que você, acordado, aprenda a chamar seus demônios, a começar pelo demônio do medo, paralisador e covarde. Que os relâmpagos de suas tempestades te façam ver, inda que por um segundo, que demônios, como a escuridão, são só ausência da luz.

Não te desejo prosperidade. Quantos estão na fila da loteria, na busca da prosperidade definitiva, medida nos milhões do sorteio acumulado?

DESEJO que você prospere, pelo significado do seu trabalho, por uma vida simples, por seu simples estar no mundo. O outro pode ter mais, ou menos, mas quem disse que o outro é quem te define? O ano estará próspero, se você for próspero.

Por último, DESEJO que nos vejamos mais, que nos encontremos mais, que dancemos mais, e que, como verbo conjugado pela boca e mãos de um Deus em movimento constante, eu tenha e você tenha o prazer de se achar parte de todos os outros, encantado no mistério último de ser único e, ao mesmo tempo, simplesmente um de nós.

Autor desconhecido.