IMG_66283630087681Por Élison Santos.

Você se lembra de quando tudo fazia mais sentido? De como era sonhar e acreditar que tudo seria possível? Você se lembra de quando você saía para brincar com seus amigos e esquecia que tinha que voltar para casa? Você se lembra de como você se sentia quando ia ao parque ou ao clube? Você se lembra de quando não precisava pensar muito para tomar suas decisões, de como tudo parecia mais autêntico, mais simples? Você se lembra de se sentir amado e seguro e de que não importava quão grande poderia ser seu erro, seus pais te perdoariam e estariam ali por você?

Hoje, crescidos, jovens, adultos, somos uma sociedade estranha, temos medo de sonhar, tornamo-nos tão descrentes que debochamos da fantasia, da fé, da esperança. Nossas novelas falam de um real tão malicioso, que não convida para a reflexão ou para a subjetivação. Nossas músicas nos falam de sexo sem paixão. E nossos noticiários, quão cruéis! Nos falam da morte em números, da doença em estatísticas, da vida sem prosa, sem verso, sem poesia! As empresas se tornaram lugares enfadonhos, promovendo a competição entre os que mais produzem, ainda que seja em detrimento da amizade, da camaradagem, da solidariedade. Quantas vezes você ouviu um colega ou um chefe lhe perguntar sobre seus sonhos, sua fé, suas poesias?

Os anos se passaram e continuam passando. As viagens que fazíamos quando crianças em nossas mentes parecem ter se tornado páginas viradas de um passado distante. Os sonhos impossíveis, mas almejados da adolescência parecem ter dado lugar aos números e a uma corrida neurótica obsessiva pela possibilidade de pagar as contas. Não é à toa que ansiamos pelos finais de semana! Não é por acaso que desejamos tanto um happy hour!

Você se lembra de quando todas as horas pareciam ser so happy?

Plugados, conectados, interessados em tudo e à par de tudo, lemos sobre a política, se é que ainda existe esta coisa pública, mas o que vemos são ratos que por estarem tão interessados na própria comida nem se tocam que o essencial ficou pra trás, bem distante! Quando foi que deixamos de acreditar?

Você se lembra? Era uma vez um menino que sonhava em ser grande, em amar, em transformar o mundo. Você se lembra? Era uma vez uma menina, linda, amiga, brincalhona, que queria crescer, apaixonar-se, ter filhos e ser grande, transformar o mundo.

Quanto de seus sonhos se tornaram realidade? Você se lembra? Por favor, diga que sim! Pois, acredite, lá naquele passado que hoje parece distante, bem lá no fundo do coração daquela criança está o que há de melhor em você.

Se há algo para desejar e esperar de alguém e para alguém que busca e espera uma ajuda, se há algo que posso realmente esperar e vislumbrar quando me deparo com o sofrimento humano é justamente a possibilidade de que lá no fundo há uma criança que ainda espera, que ainda sonha, que ainda busca.

O que lhe desejo? Só uma coisa. Que você se lembre!

Élison Santos é Psicólogo Clínico, terapeuta de casal, membro da sociedade brasileira de logoterapia, especialista em Análise Existencial e Logoterapia pela PUC Curitiba. É idealizador do grupo de reflexão para mulheres "Compreendendo os homens". Palestrante, comentarista de TV e colunista do site aleteia.org.