Fui abordado por um monge enquanto visitava um dos pontos turísticos mais famosos de Yangon, em Myanmar. Depois de um longo bate-papo ele me convidou para visitar uma escola de Inglês para moradores locais, na qual trabalha como voluntário, ajudando jovens carentes e outros monges a aprender a língua.
Ele me disse que seria interessante para os alunos conhecerem e terem a oportunidade de conversar, praticar Inglês com uma pessoa de fora, um turista. Não hesitei e de cara aceitei o convite. Conversei mais tarde com o diretor da escola de inglês que fez questão de ligar no lugar onde estou me hospedando pra me passar o endereço e o horário em que eu deveria comparecer na local.
Sempre busco essa imersão cultural nos países que visito. Interagir com moradores locais e fugir um pouco dos roteiros turísticos sempre acrescenta conhecimento e expande o leque cultural. A troca de informações de ambos os lados deixa qualquer viagem muito mais interessante.
Acordei cedo no dia seguinte, pois havia combinado com o monge e o diretor de chegar ao local às 9:00 horas. No caminho criei uma enquete, uma forma de interagir melhor com os possíveis 10 alunos que com certeza estariam timidamente esperando por essa chance de conversar com um ocidental. Cheguei à escola e para minha surpresa não havia 10 e sim mais de 120 alunos.
Mais de cento e vinte pessoas com idades entre 12 a 50 anos, homens, mulheres, monges e até oficiais da polícia de Yangon. A sala era grande, com poltronas que acomodavam entre 3 a 4 pessoas, janelas largas e seis ventiladores de teto, que no calor de 40°C não ajudavam muito.
Depois de ter sido apresentado para a turma e completamente cercado pelos alunos que euforicamente não paravam de me fazer perguntas, fui chamado à frente pelo professor e com a ajuda de um microfone me apresentei. O professor se portava como o “Serginho Groisman” do programa Altas-Horas e levava um segundo microfone até o aluno que queria fazer perguntas. Logo o nervosismo de ambos os lados foi se transformando em um momento mágico e o bate-papo fluiu com tanta naturalidade que me senti parte daquele grupo de estudantes, fazendo também perguntas sobre sua cultura local e rotina de cada um. Todos muito curiosos sobre minha vida, o Rio de Janeiro, nossos pratos típicos, copa do mundo e acreditem ou não, Neymar. Sim, 95% dos alunos acham o brasileiro hoje no Barcelona, o jogador de futebol mais importante do planeta. São apaixonados por futebol.
O bate-papo que era pra durar apenas 1 hora, acabou durando 2 horas e meia, regado a muitas risadas, alunos cantarolando músicas locais e eu introduzindo o bom e velho Tom Jobim com Garota de Ipanema na minha voz mais que desafinada.
Acabei recebendo o convite pra voltar mais vezes e conversar com outras turmas em outros dias. Ganhei também abraços de agradecimento de todos os alunos da sala e foi difícil conter a emoção nesse momento, algumas lágrimas simplesmente insistiam em marejar meus olhos.
Agradeci então a todos pela oportunidade de poder compartilhar um pouco da minha vida e principalmente por ter aprendido com eles um pouco mais dessa cultura incrível e linda que é a do povo de Myanmar.
Acabei também ganhando pelo menos mais 20 novos amigos de Myanmar no Facebook.
Mayke Moraes é brasileiro, mineiro, solteiro, flamenguista e apaixonado por viagens, desde que se entende por gente. Fissurado em comidas bizarras, exóticas e nojentas para alguns. Sem apegos materiais e emocionais, carrega consigo, além da mochila um único sonho, o de visitar e explorar 100 nações. Mora fora do Brasil desde 2008, tem uma vida nômade, onde graças a muito suor e diferentes trabalhos continua realizando seu grande sonho de explorar o globo, já tendo visitado e explorado 54 países e centenas de cidades, sempre com pouco dinheiro e muita vontade, inspirando e motivando aqueles que erroneamente acreditam que é preciso ser rico para viajar o mundo.
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