18217023_1420471271308432_1795158026_nPor Carolina Montenegro.

Sinto por você que tem medo, por você que não sabe o que quer. Sinto tanto por você que não se arrisca, que guarda um pedaço pra depois e se acostuma a molhar só as pontas dos dedos. Sinto lhe dizer que sua espera por certezas talvez nunca termine, que tudo que é bom tem prazo de validade e que o tempo corre de nós feito sombra que não se alcança. Sinto também te contar que sua casa não precisa estar arrumada para deixar alguém entrar e que somos muito mais o que guardamos nas gavetas do que aquilo que mostramos em cima da mesa.

Aqui onde vivo caminhamos descalços e abraçamos as rosas sem medo dos espinhos. Nessa escola aprendemos que nunca saberemos se um caminho é bom ou ruim se não caminharmos. Na terra, povoada por gente pequena de grande coração, falamos alto, acordamos cedo, rimos muito e damos de ombros para os avisos de perigo. Nossas palavras de ordem são: fé e coragem e nossa bandeira é de todas as cores. Plantamos expectativas, colhemos a verdade.  Quem por aqui faz morada se acostuma com o barulho do lado de dentro, com as mudanças de rota e com o inesperado. Nosso dicionário não é organizado em ordem alfabética e sim em listas de importância e por essas bandas os tempos verbais só existem no presente.

Do outro lado do muro você não nos enxerga e muito menos nos compreende. Nosso povo se alimenta de sonhos e afeto, mas desaparece ao pousar em olhares nublados. Comemoramos aniversários a cada amanhecer e presenteamos os outros com a nossa vontade de ficar, mesmo que ela dure menos de um dia. Ao nascer do lado de cá, ganhamos como missão encher nossos caminhos com laços de fita de todas as cores, formas e texturas, na certeza chegarmos ao final da estrada com a vida cheia de vida.

Jornalista e gestora cultural com especialização em marketing, comunicação institucional e práticas dirigidas à elaboração de projetos de incentivo e fomento a arte em suas mais diversas manifestações. É diretora da Montenegro Produções Culturais, com sede em Curitiba, e da Guanabara Produções Culturais, como extensora dos projetos de arte para outros Estados do Brasil. Recentemente, produziu três edições do Festival de Teatro Infantil de Curitiba, quatro edições do Festival No Improviso Jazz & Blues, a série de encontros Conversarte, exposições artísticas, oficinas culturais, seminários de sustentabilidade e outros.