Quando você chega de uma longa viagem e os amigos perguntam: “E aí, como foi?, é difícil responder de maneira como eles gostariam. Aliás, que maneira seria essa? Difícil resposta.

Houve um tempo em que os filmes demoravam a chegar, e quem houvesse visto os últimos lançamentos fazia grande sucesso. Só que esse tempo acabou. Ainda existem as exposições e peças de teatro – para quem gosta -, mas por aí ficamos. Nem mesmo falar de restaurantes adianta: todo mundo conhece todos. E, afinal, o que fica de uma viagem não são os lugares aonde se foi nem as compras; são as sensações pessoais e intransferíveis que nem rendem uma boa conversa – até porque ninguém está interessado nelas.

Como naquela noite, não faz muito tempo, em que você se debruçou sobre o Sena em frente à Notre Dame, e ficou lembrando vagamente de quando era menina e tudo com que sonhava na vida era um dia estar ali, naquele lugar, fazendo exatamente o que estava fazendo.

Como as coisas se misturam – a realidade com o passado, os sonhos do passado com os do presente… No fundo, uma vida inteira, que passa pela cabeça como um filme. O lugar onde Leslie Caron e Gene Kelly dançaram, em Um Americano em Paris: quem diria, anos atrás, quando você mal ousava pensar em conhece a cidade mais linda do mundo, que não só iria conhecê-la como lá passaria anos de usa vida e a França viraria sua segunda pátria? E, quando isso ocorre de forma tão forte – no fundo, repito, a história de uma vida -, como contar a alguém que pergunta, ingenuamente: “Como foi a viagem?” Difícil.

Rever os lugares onde você viveu, foi feliz, sofreu e onde tinha o sagrado direito de poder às vezes fazer todas as loucuras – direito que agora não tem mais. E não é isso a famosa volta a vidas passadas? E quantas vidas são vividas enquanto se vive? Dez, 50, 300? Mesmo consciente de que era impossível saber naquela noite olhando para o Sena, você se pergunta: “Valeu? E, se tivesse me casado para sempre e ido morar em Juiz de Fora para sempre, teria sido feliz para sempre?

Não você, se é daquela que gostam de mudar – de casa, de namorado, de país. Às vezes, tem a impressão de não ter criado raízes em lugar algum, de não pertencer a nenhuma cultura, a nada, de tanto que consegue pertencer a todas. É como a cor branca, que parece não ter cor, mas contém todas que existem. E por que tanta dificuldade de repente? Talvez tenha chegado a hora de jogar tudo para o alto mais uma vez e mudar o jogo.