Por Pedro Chagas Freitas.
Desengana-te, o que mais dói não é a infelicidade. A infelicidade dói. Magoa. Martiriza. É intensa, faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas, a infelicidade não é o que mais dói.
O que mais dói é a subfelicidade. A felicidade que não se faz felicidade, que fica sempre a meio de se ser. A quase felicidade.
A subfelicidade não magoa, vai magoando; a subfelicidade não martiriza, vai martirizando. Não é intensa, mas é imensa. Faz gritar, sofrer, saltar, chorar, mas em silêncio, em surdina, em anonimato.
Como se não fosse. Mas é, a subfelicidade é. A subfelicidade faz-te ficar refém do que tens, mas nem assim te impede de te sentires apeado do que não tens e gostarias de ter. do que está ali, sempre ali, sempre à mão de semear e que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade é o piso 1 da felicidade. E não há elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas.
Sair da subfelicidade é um drama. Um pesadelo. Sair da subfelicidade é mais difícil do que sair da infelicidade. Para sair da infelicidade, tu mesmo o sabes: tens de tomar medidas drásticas. Medidas radicais. Porque a infelicidade é, também ela, radical. Mas sair da subfelicidade é uma batalha interior mais dolorosa.
A subfelicidade é o produto mais diabólico que a humanidade criou. A subfelicidade é resultado da mente, também ela diabólica, de quem tem consciência. O humano ficou, cada vez mais, refém do que está perto, do que está seguro. Formatado pela consciência, o homem assimilou um conceito que, na verdade, não existe: o da felicidade segura.
A felicidade segura não existe. A felicidade segura é segura sim, mas não é felicidade. A felicidade pacífica é pacífica, sim, mas não é felicidade. A felicidade, quando é felicidade, assolapa, euforiza, arrebata. E não deixa respirar, e não deixa sequer pensar. A felicidade quando é felicidade, é só felicidade. E tudo o que existe, quando existe felicidade, é a felicidade. Só ela e tu. Ela em ti. Ela em todo o tu. A felicidade, para ser felicidade, não tem estratos, não tem razão. Ou é ou não é. Só quando estás dentro da felicidade é que estás fora de ti. Liberto do corpo, da matéria, da sensação e imerso naquela indizível comunhão. Tu e a felicidade. Já a sentiste, não?
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