Por Barbara Bigarelli.

Duas pessoas aguardam serem chamadas para uma entrevista de emprego. Sentadas no corredor, uma delas tem o queixo baixo, ombros para frente, está de braços cruzados. A segunda pessoa está sentada com a postura ereta, olha para frente, respira fundo. Não houve por enquanto nenhuma comunicação, mas não é preciso ser o recrutador para analisar quem está se mostrando mais confiante. “A nossa postura diz muito sobre a sensação de poder que temos ou não”, defende Amy Cuddy, psicóloga e professora da Universidade de Harvard, durante palestra no HSM, em São Paulo. “Temos que lembrar que nosso corpo e mente estão sempre  conversando”.

Amy leciona sobre poder, influência e comunicação, mas tornou-se famosa ao divulgar resultados de pesquisas que realizou sobre a importância da linguagem corporal nas nossas vidas. Durante anos, ela reuniu evidências científicas sobre de que forma os gestos e movimentos que fazemos, a forma como sentamos, como dormimos e como respiramos diz muito sobre quem somos e o que queremos ser. Seu TED “Your body language may shape who you are” atingiu 37 milhões de visualizações.

Os testes da psicóloga giram em torno da constatação de que quando nós nos sentimos poderosos e confiantes, expandimos nosso corpo – e vice-versa. Uma postura aberta e um andar firme, de cabeça erguida, ajudam sim a ganhar confiança. É por essa razão que um ginasta, por exemplo, finaliza a prova erguendo firme os braços para frente – demonstrando confiança pelo que realizou. Vale lembrar também que o gesto mundial da vitória é levantar os braços para cima. “As culturas e os esportes variam, mas não importa se é homem ou mulher, todo atleta comemora levantando os braços para cima e balançando”, diz. O comportamento de expansão como reflexo de confiança é algo que todos os animais também praticam. “Pense no pavão, inflando o peito, abrindo plumas, para mostrar poder e dominância visando atrair a fêmea”, diz.

Seguindo o mesmo raciocínio, uma postura “caída” refletirá sentimentos como vergonha, tristeza, desânimo, até depressão. “Baixar a cabeça encostando o queixo no peito parece ser a expressão mundial da vergonha, um comportamento submisso diante de uma derrota”, diz. É como o cachorro que, com medo, coloca o rabo entre as pernas. Manter essa postura, segundo Amy, prejudica a pessoa por dificultar que ela retome a confiança e conquiste a vitória desejada. “Cultivar a postura positiva tem a ver com a sensação de estar no controle da situação. Quando as pessoas adotam posturas poderosas, elas sentem que estão avançando no tempo. Em posições para baixo, a impressão é de que o tempo está passando por elas”, diz.

Amy tem algumas dicas simples para melhorar nossa linguagem corporal durante o dia e, principalmente, como atravessar um momento difícil. Confira:

Prepare-se para se sentir empoderado. Amy defende que, ao invés de perder tempo nos preparando para que algo possa dar errado, devemos nos preparar para ganhar confiança antes de enfrentar o desafio. Ela cita o exemplo da seleção neozelandesa de rugby, uma das melhores do mundo. Minutos antes do início de cada partida, os jogadores praticam uma dança cerimonial do século 19, chamada haka. Com movimentos firmes, a dança exige que os jogadores estendam os braços e abram sua postura. “Eles dançam como uma forma de ganhar confiança e se preparar para o desafio”, diz. Com o tempo, a dança ficou famosa e retomou a característica original, que era intimidar o adversário que assiste do outro lado do campo. Cada um pode encontrar um “ritual” para fazer em sua vida e atingir o mesmo propósito, defende Amy.

Tudo é uma questão de manter a espinha ereta. Amy defende que manter a postura alinhada e reta reflete e ajuda nosso estado de espírito. Ela cita um estudo que analisou pessoas que sofrem depressão crônica e a postura que mantêm ao ficar sentadas. A ideia era utilizar a linguagem corporal para ajudá-las a tratar o problema. A maioria, segundo Amy, sentava de um modo “jogado” na cadeira, olhando para baixo, com uma postura largada. Durante o experimento, os pesquisadores pediram que todos se sentassem de maneira alinhada, com as costas eretas. “Só isso já provocou uma mudança no estado de espírito, as pessoas começaram a falar mais e se lembraram de memórias mais positivas”. Portanto, a dica aqui é: abra o peito, respire fundo e se sinta mais feliz.

É melhor andar do que se abaixar. Rebeceu um email importante que chegou trazendo más notícias? Ao invés de abaixar a cabeça e batê-la no tampo da mesa, a dica de Amy Cuddy é se levantar e caminhar. “Expanda o peito, fique de pé, vá dar uma volta. Você se sentirá muito melhor”, diz. Andar de forma confiante, segundo Amy, gera mais confiança.

Atenção ao acordar. Em outro estudo citado pela psicóloga, os pesquisadores queriam analisar se o modo como as pessoas dormiam – de bruços, barriga para cima, conchinha – influenciava em sua disposição ao levantar da cama. A principal conclusão do estudo, segundo Amy, foi a de que quem acorda com os braços abertos – ou seja, com o peito voltado para cima – se sente menos ansioso logo cedo. Como nem todo mundo tem controle sobre a forma como consegue ter uma boa noite de sono, a dica de Amy é tentar ganhar a confiança logo ao acordar. “A partir de uma posição fetal, sem abrir os olhos ou pegar o celular, espere alguns instantes. Depois abra os olhos, repare no ambiente ao seu redor, estique os braços, dê uma boa espreguiçada e se alongue. Você se sentirá sim mais animado.”