Por Martha Medeiros.
Juntos chegaram à conclusão de que o casamento estava um tédio, que o amor havia sumido e que a presença um do outro incomodava mais do que estimulava: nem mesmo a amizade e a ternura sobreviveram. Depois de algumas cobranças inevitáveis, muito papo e lágrimas à beça, optaram por seguir cada um para seu lado. Quando? Logo depois das férias de julho: a gente viaja com as crianças e depois você sai de casa. Perfeito.
Voltaram da viagem mais duros do que nunca foram, o saldo completamente no vermelho. Não era uma bora hora para comprometer-se com um novo aluguel. Ela compreendeu e disse para ele ficar em casa até as finanças se estabilizarem de novo, quando ele então poderia procurar um apartamentozinho.
O casamento seguia um tédio, mas o clima estava mais ameno, sabiam que dali a pouco estariam separados para sempre, então calhava uma harmonização, eles até passaram a sorrir com mais frequência e, olhando assim de longe, qualquer um diria que aqueles dois se entendiam bem.
As dívidas da viagem foram pagas e, depois de mais uma entre tantas discussões bestas, resolveram agendar de vez a separação: logo depois do aniversário do pequeno Bruninho, que dali a um mês faria 16 anos e media 1m87cm.
Bruninho não quis festa, e o saldo do casal voltou a ficar positivo, mas não por muito tempo: a televisão já veiculava propaganda com Papai Noel. Natal era sempre uma despesa, e os sogros viriam do interior para comemorar com a família reunida, melhor deixar passar o Natal e o Ano-Novo. É melhor, também acho.
Em fevereiro a Bia, filha mais velha inventou de ir para a praia do Rosa com as amigas e ficou o mês inteiro lá, assim que ela voltasse os dois dariam o xeque-mate neste casamento. Bia voltou e já era quase Páscoa, e Páscoa sem ir pra fazenda da tia Sonia não era Páscoa. Depois da Páscoa receberam o convite para serem padrinhos de casamento de um afilhado, melhor não criar constrangimento na igreja. Em seguida, foi o aniversário dele, que sempre fica meio caído nessa data, melhor deixar passar o inferno astral. E quando passou, aí foi ela que aniversariou.
Estão casados até hoje. Mas do mês que vem não passa.
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