Por Martha Medeiros.
Não lembro quem falou, mas como gostei: “Todo exagero é uma forma de ficção”. Quem de nós não é ficcionista nesta vida?
Reclamo porque provocaram um rombo no sofá, e foi apenas uma brasa de cigarro que caiu e fez um furinho deste tamanhozinho, mas, puxa, eu enxergo um rombo. O prejuízo é de um rombo. E a minha bronca também é grande.
Me olho no espelho e me acho obesa. Na verdade engordei meio quilo, mas ele não se espalhou democraticamente de norte a sul, ficou concentrado numa região que já estava bem suprida, tal como acontece com a distribuição de renda do país, então meio quilo a mais, no mesmo lugar, é uma injustiça, uma canalhice, um desaforo.
Eu não sinto frio: eu morro de frio. Grito pela casa: que friiiiiiio! Aí ligo o ar-condicionado e ressuscito um pouquinho, mas não tiro nenhum dos quatro blusões que estou vestindo. Cobertores, são vários. E durmo com meias, que retiro na calada da noite sem nem mesmo acordar. Morro de frio e ainda por cima sou sonâmbula.
Isso quando eu consigo dormir oito horas por noite, que é raro. Geralmente durmo bem menos que isso, e aí o que acontece? Eu não fico apenas devagar, como ficam outras pessoas. Eu fico enlouquecida de sono e podre de cansada. Louca de sono significa que eu fico cabeceando no sofá, e quando dou por mim o William Bonner já disse boa-noite-até-amanhã e eu perdi a previsão do tempo. E podre de cansada é podre mesmo, deteriorada, murcha, sem serventia. Um lixo.
Mas isso são exceções. Na maioria das vezes eu estou não apenas alegre, mas pulando de felicidade. Sinto por dentro a adrenalina correndo pelas veias, meu sorriso fica escancarado no rosto e começo a achar tudo bárbaro. Porque sou assim, extremada.
Quebrar uma unha é uma desgraça. Perder um episódio de Os Normais é um pecado. Um cara bonito é uma tentação do demônio. Um atraso de 10 minutos é o fim do mundo. E qualquer crítica me deixa de coração partido. Portanto, melhor gostar de mim, senão você é um homem morto.
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