Por Mayke Moraes.
Cidade de Anchorage – ALASCA
Sempre digo que quando viajamos, nossa mente se abre para o novo. Ao longo das minhas viagens pelo mundo tive a oportunidade de ver muita coisa. Algumas discordava e, mesmo assim, tinha que respeitar, já que a cultura de cada país é única – e os valores e princípios também. Às vezes o que é tido como certo para uns, é visto como algo estranho e bizarro para outros, mesmo assim, lidar com essa diversidade sempre expande horizontes.
Morando no ALASCA tive a oportunidade de assistir esses dias à cerimônia de abertura da IDITAROD, uma corrida de trenós puxados por cães, considerado o maior evento esportivo da região e que leva todos os anos milhares de pessoas às ruas. Conhecida como ‘A última grande corrida da Terra’ a Iditarod é realizada no mês de Março, com início em Anchorage e término a 1600 Km dali, em uma cidade chamada Nome, também no Alasca. O percurso atravessa montanhas, rios congelados, florestas densas com vários momentos de planície aberta ao vento gelado e cortante da região, com sensações térmicas podendo atingir -73º C o que não deve ser fácil para os bichanos. Nos últimos anos, a média de conclusão da travessia é de 9 dias.
Na corrida, cada participante é chamado de “musher” e deve ter a sua disposição uma matilha de 12 a 16 cães dos quais ao menos seis devem estar puxando o trenó na linha de chegada. Cães de trenó são utilizados para transportar pessoas e mercadorias por paisagens congeladas há séculos. Este método de transporte ainda é utilizado no Alasca, embora, hoje em dia, conduzir trenós puxados por cães seja tanto esporte quanto meio de locomoção. A corrida de Iditarod coloca homens e animais contra a natureza selvagem do lugar fazendo um tributo à história deste que é o maior Estado Americano e do papel do cão de trenó guiado.
Esse ano a corrida contou com 85 competidores e mais de 1200 cachorros, dos EUA, Canadá, Noruega, Suécia e Nova Zelândia. Pouca gente sabe, mas em 2013 essa mesma competição teve a participação de um brasileiro, o macaense Luan Ramos, que encerrou a corrida em 12 dias, 12 h e 8 min, chegando em 49º colocado, com 15 dos 16 cães, por um deles ter tido uma torção no ombro. Os cães são, em sua maioria, das raças husky siberiano e malamute-do-alasca, competem com protetores nas patas, para amenizar os efeitos do contato com o gelo. Aqueles que se sentem debilitados no meio do caminho são encaminhados para ambulatórios nas paradas de descanso e sempre recebem massagens nos pés e tornozelos através das mãos poderosas dos seus guias e veterinários contratados. Os cães que não têm condições de continuar o percurso por estarem doentes, feridos ou não apresentarem um bom desempenho são atendidos e levados de volta a Anchorage.
O PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais) considera o trabalho dado aos bichanos desumano e condena a prática do “esporte” que hoje é patrocinado por várias empresas de renome, como a Coca-Cola, Jack Daniels e a rede de Bancos Wells Fargo.
Quero deixar claro que como mero mochileiro observador, retrato fatos, independente do juízo de valores, afinal, não sou eu quem os conduz até lá ou patrocina a causa.
Mayke Moraes é brasileiro, mineiro, solteiro, flamenguista e apaixonado por viagens, desde que se entende por gente. Fissurado em comidas bizarras, exóticas e nojentas para alguns. Sem apegos materiais e emocionais, carrega consigo, além da mochila um único sonho, o de visitar e explorar 100 nações. Mora fora do Brasil desde 2008, tem uma vida nômade, onde graças a muito suor e diferentes trabalhos continua realizando seu grande sonho de explorar o globo, já tendo visitado e explorado 54 países e centenas de cidades, sempre com pouco dinheiro e muita vontade, inspirando e motivando aqueles que erroneamente acreditam que é preciso ser rico para viajar o mundo.
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