Por Carolina Montenegro.

Passando pela sala, esbarrei em meu vaso preferido. Confesso que estranhei quando chegou na minha casa, era grande, colorido, diferente e chamava atenção destoando da decoração. Mas teimosa que sou, não desisti.  Aos poucos fui mudando os móveis de lugar, a cor das paredes, a disposição dos quadros para que assim ele se encaixasse no ambiente.

Era ele quem recebia as flores mais bonitas e fazia com que elas durassem até mais que seu tempo. Sempre ao acordar passava por ele e me orgulhava em ter feito com que ele se parecesse com a casa.

Caindo no chão, agora em pedaços, fui correndo juntar os cacos pra tentar refazê-lo com perfeição. Sozinha, dias e noites, reconstruí pedaço por pedaço. Ao passar por ele eram poucos que percebiam os pedaços faltando e a cola aparecendo nos cantos. Eu sabia que não era mais o mesmo e já não tinha mais tanta certeza de que meu feito daria certo. Distraindo o olhar mais atento aos defeitos deixei  ele ficar, afinal depois de tanto trabalho para reconstruir não era justo tirá-lo dali. As flores que lhe entregava já não desabrochavam mais e suas cores também não eram mais tão vivas.

Foi quando por descuido do vento ele mais uma vez veio ao chão. E ao lembrar de tudo o que fiz para reconstruí-lo a primeira vez, não tive coragem, nem força de juntar os cacos. Abri a porta e deixei que o vento se encarregasse de leva-lo.

É difícil e quase impossível fazer com que algo se encaixe na sua vida por teimosia, birra ou convicção. Você acredita que bastam algumas adaptações, muda aqui, tira dali e pronto! O que era diferente passa a ser igual, passa a se encaixar nas suas expectativas e sonhos. Passa a fazer parte da sua rotina e até se parece com você. Até que chega o tempo em que você desperta para todos os sinais que recebeu e enxerga que nem uma redoma de aço seria capaz de manter no lugar algo que ali nunca esteve.