Por Mariana Fusco Varella.
A gente nasce, cresce, reproduz-se e morre, ensinam os livros de ciências. Esse é o ciclo da vida para aqueles que, diferentemente dos seres humanos, são dotados de uma habilidade que outros animais não têm: a de planejar.
Podemos fazer escolhas profissionais, amorosas e tantas outras. É por meio da nossa capacidade de planejar e escolher que conseguimos organizar a vida, estabelecer metas e objetivos e traçar caminhos para alcançá-los.
Os homens utilizam essa habilidade humana há séculos, mas às mulheres, apenas recentemente foi dado o privilégio de planejar e fazer escolhas de acordo com sua vontade.
Até bem pouco tempo atrás, a mulher quase sempre tinha apenas um caminho a seguir, traçado antes mesmo de ela nascer: casar-se, ter filhos e cuidar da família. Poucas fugiam desse destino.
Será que todas as mulheres sempre quiseram mesmo ser mãe? O instinto materno é de fato algo intrínseco a nós a ponto de não podermos abrir mão dos filhos?
O tempo passou, a sociedade mudou e a mulher hoje pode, em princípio, comandar a própria vida. Mesmo que ainda sejam poucas as que assumem o papel ativo diante da vida e bancam suas escolhas, não há mais um único caminho destinado à mulher.
A maternidade, como bem sabe toda mãe, apesar de compensadora não é fácil. Exige, entre muitas outras coisas, dedicação e abdicação da própria independência, e nem toda mulher está preparada ou deseja encarar a tarefa.
Além disso, o mundo moderno oferece tantas oportunidades além da maternidade, que a vontade de ter filhos pode ser postergada ou mesmo abandonada. Criar um filho é dispendioso; nas culturas latinas, o homem não costuma ajudar muito na tarefa, o que acaba sobrecarregando a mulher. Portanto, não é difícil supor que muitas mulheres possam simplesmente não desejar ser mãe.
Porque filho pode ser maravilhoso, mas verdade seja dita, quem os tem nunca mais será completamente livre. E abrir mão da independência deve ser uma escolha, não uma imposição.
Há mulheres que se realizam sendo mães, outras encaram a maternidade como parte da vida, uma de suas facetas. E há, ainda, um terceiro grupo que simplesmente não deseja viver a maternidade.
E não há nenhum problema nisso, desde que a mulher se sinta bem com sua escolha. A vida pode ser muito boa sem a presença de fraldas, mamadeiras e mordedores. Basta abrir-se para essa possibilidade.
Encarar que você não terá filhos pode ser bem difícil. A cobrança é grande, e não serão poucos os que a olharão com piedade, quase como se você padecesse de uma doença grave e incurável.
Muitos a considerarão egoísta, pois é difícil aceitar que a mulher possa não pretender dedicar-se incondicionalmente a outra pessoa e optar pela independência.
Não é verdade que a mulher só encontrará a felicidade e a plenitude na maternidade, essa premissa só serve para gerar culpa nas mulheres que não se sentem assim ao se tornarem mães. A felicidade não está nos outros, sejam eles filhos ou parceiros amorosos.
O mais importante é que a mulher tenha condições de escolher quando e se quer filhos. E ela só poderá fazer essa opção se pensar em si, na vida que deseja levar. Portanto, é preciso acabar com a ideia de que a mulher é apenas um veículo que serve para trazer vida ao planeta e cuidar dos outros de modo incondicional.
Caso contrário, o resultado será frustração. Porque ter ou não ter filhos traz consequências boas e difíceis, e é a mulher que terá de encará-las. Portanto, essa decisão só cabe a ela.
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