Por Ana Fontes.
As mulheres representam mais de 51% da população do planeta, mas são sub-representadas nas esferas do poder público e da ciência, territórios tidos pela sociedade como masculinos. Somos aproximadamente 10% dos cargos de liderança nas grandes corporações e 11% na política. Fomos “apagadas” de vários fatos históricos da ciência.
Poderia elencar vários motivos para vivermos esse cenário: desde vieses inconscientes, que colocam a mulher em imagens pré-definidas, a forma como somos criadas para sermos as cuidadoras da família, as mães responsáveis pelos filhos, até a objetificação da mulher como propriedade dos companheiros. As estatísticas estão contra nós: a maioria das pesquisas apontam que levaremos mais de cem anos para termos um mundo com mais equidade de gênero e, por isso, movimentos de representatividade feminina são tão importantes.
Colocando uma luz no mundo do empreendedorismo a situação muda. As brasileiras representam quase 50% dos micro e pequenos negócios. E o que faz as mulheres buscarem o empreendedorismo? Eis a razão mais palpável: o mundo corporativo ainda é o mesmo moldado e liderado por homens, o que torna os ambientes menos amigáveis e até hostis para as mulheres, principalmente as que são mães.
É só olhar para estatísticas e ver que as mulheres saem das corporações com 30 a 40 anos, o que coincide com a idade na qual a maioria escolhe para ser mãe. Nesta fase, as mulheres passam a focar no propósito, na busca por valores de vida que não se conectam com a realidade das corporações que seguem o modelo tradicional.
Em nossa pesquisa, descobrimos um gatilho importante sobre a busca das mulheres para empreender: “nasce um bebê, nasce uma mãe, nasce uma empreendedora, tudo junto mesmo” _é nesta fase especial da vida das mulheres que o empreendedorismo surge como um plano B, devido à possibilidade de ganhar flexibilidade, essa palavrinha mágica tão sonhada pelas mães.
Eu sou um exemplo vivo dessa estatística. Construí uma carreira executiva no mundo corporativo e saí em 2007, para buscar outros caminhos e poder conciliar maternidade e carreira. A jornada até aqui foi cheia de desafios, mas essencialmente de aprendizados que me fizeram adquirir todo o conhecimento que tenho hoje sobre mulheres, liderança feminina e empreendedorismo.
Empreender não é o mundo de sonhos que muitos falam. Costumo dizer que empreender não é uma corrida de curta distância, é uma maratona constante, com muitos obstáculos, mas também é um mundo de possibilidades. Empreender é sobre poder transformar a vida de outras pessoas por meio do seu negócio.
Minha trajetória me trouxe a este caminho que hoje percorro com muita determinação. Ser empreendedora, pesquisadora, professora e defensora da causa das mulheres me torna cada dia mais forte e convicta de que a energia feminina é fundamental para termos um mundo mais justo, construído com diversidade e inclusão.
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