Por Débora Rubin.
“Talvez eles nunca tenham aparecido tanto quanto agora. Isso é bom porque estamos tornando-os visíveis, tirando-os da invisibilidade.”
A afirmação acima é do pedagogo Paulo Fochi, em entrevista à Revista Educação, e se refere ao modo como a neurociência, a pedagogia, a psicopedagogia e outras áreas afins tem transformado o modo de enxergar a primeira infância. É recente o entendimento pleno de que os bebês, na fase que vai do zero aos 18 meses, são verdadeiros cientistas em potencial.
Nesta fase do desenvolvimento, eles observam e aprendem com tudo ao seu redor, e é quando formam as primeiras sinapses do cérebro. Ao perceber o movimento das formas e objetos do cotidiano, eles apreendem noções da Física, da mesma forma que experienciam a Biologia quando se relacionam com a natureza e os seres vivos. Todas essas descobertas comprovam a atenção merecida que este período da vida demanda: a chamada “primeira infância”, o começo da vida.
Diante disso, como as escolas e os educadores devem se preparar para atender todas as necessidades dos bebês? Que inovações são necessárias para alcançar uma educação infantil que faça jus a essas novas percepções?
Para os especialistas, os bebês nunca estiveram tão visíveis na sociedade.
“Até os anos 70 compreendíamos os bebês como sujeitos muito passivos, mas os estudos atuais mostram que eles chegam ao mundo com um equipamento muito completo para realizar ações neste mundo”, resume a professora Maria Carmem Barbosa, pesquisadora e docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Para Maria Carmem, esses novos olhares sobre a primeira infância tem mudado radicalmente o modo como a escola enxerga os bebês.
“Ao mesmo tempo em que os bebês estão se tornando visíveis, há uma preocupação acerca dos discursos que decorrem dessa ‘popularidade’”, reflete Paulo. O especialista se refere ao discurso da estimulação precoce, consequente, principalmente, das recentes descobertas da neurociência.
“Nesse sentido há dois pontos de vista: o de que o bebê não é frágil, com o qual concordo, e o discurso de antecipar o desenvolvimento para dar mais subsídios à criança no futuro, sobre o qual sou contra. Precisamos dar tempo para os bebês serem bebês”, defende.
A necessidade de um currículo escolar especialmente voltado para os bebês
De acordo os especialistas na área da primeira infância, é preciso que os educadores e as escolas estejam preparados para receber todo esse potencial e o primeiro passo para isso é uma formação específica e uma entrega absoluta à alteridade que os bebês demandam e representam. Ou seja, é preciso estar atento a ‘ler’ nas entrelinhas, afinal, um bebê, ainda que não se expresse verbalmente, se comunica o tempo todo.
“O bebê, que já procura o olhar da mãe ao ser amamentado, tem sempre a necessidade de chamar a atenção do adulto, seja através do olhar, do choro, do riso ou quando começa a engatinhar, indo em direção aos mais velhos”, destaca Lígia Ebner Melchiori, professora doutora do Departamento de Psicologia da Unesp e autora do livro Linguagem de bebês: manual de estimulação (Editora Juruá).
Para ela, os bebês são grandes comunicadores, e toda forma de sinais que eles emitem – gritos, toques, sorrisos e olhares – configuram a sua linguagem específica, desde quando estão no berçário.
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