Por Martha Medeiros.

Acabo de ler um livro espetacular, Quando Nietzsche chorou, de Irvin Yalom, que narra, em forma de romance de ficção, o nascimento da psicanálise. É uma leitura inquietante e ao mesmo tempo acessível, que tem como personagem principal um dos maiores filósofos do século 19. Entre tantas frases geniais, escolhi e comento aqui uma: “Os inimigos da verdade não são as mentiras, mas as convicções”.

Realmente. Nossas convicções é que impedem que a verdade se estabeleça em nossas vidas, são as convicções que nos aprisionam, nos limitam e nos segmentam por grupos, impedindo que a gente desenvolva nossa singularidade.

O amor é eterno: verdade ou mentira? O amor acaba: verdade ou mentira? São convicções que só podem ser comprovadas quando vivenciadas, e podem ser vivenciadas tanto uma coisa quanto a outra: amores finitos e infinitos. Costumamos teorizar sobre o assunto, mas nossas conclusões são meros chutes, pois os amores não simpatizam nem um pouco com estatísticas e enquadramentos, cada amor é de um jeito.

E seguimos nós: não sou mulher disso, não sou homem daquilo, nasci para ser mãe, não nasci para casar, eu me garanto, eu sei de tudo, aquele ali não presta, aquela outra não vale nada, só quem dá duro é que vence na vida, só os trouxas é que se matam trabalhando, não preciso de terapia, não vivo sem terapia, nasci para brilhar, tudo dá errado pra mim: e todos têm certeza do que estão dizendo, certeza absoluta.

Alguém lá tem certeza absoluta do que quer que seja? Somos todos novatos na vida, cada dia é uma incógnita, podemos ser surpreendidos pelas nossas próprias reações, repensamos mil vezes sobre os mais diversos temas: as ditas “certezas” apenas são escudos que nos protegem das mudanças. Mudar é difícil. Crescer é penoso. Olhar para dentro de si mesmo, profundamente, é sempre perturbador.

Não somos todos iguais como damos a entender. Mas vivemos todos de um jeito muito parecido. É mais fácil se manter integrado, é mais seguro saber direitinho quem se é e o que se quer da vida. Eu nunca vou fazer isso, eu jamais terei coragem de fazer aquilo: será mesmo? Quanto medo das nossas capacidades. Melhor adotar meia dúzia de convicções, assim fica mais fácil manter o rumo. Que pode ser o rumo da verdade, mas também da mentira.