Por Janine Nogueira.
A impermanência de ideias, sentimentos e costumes está aquém da natural evolução humana. Amarramo-nos a toques de vidro e fragilizamos as nossas relações.
É nítida a mutação das relações humanas nesta época de Whatsapp, Facebook, SnapChat e afins. As conversas infinitas com flags de visualização, que causam angústia quando aparecem azuis e o receptor não responde. Compartilhamentos de textos ideológicos, mas que no final não fazem a mínima diferença para a sociedade e seus caracteres. E também ofensas retrógradas a negros, pobres, homossexuais e tantos outros desfavorecidos socialmente. Fotos de comida, selfies, fotos do pé em uma paisagem linda, uma representação perfeita de uma felicidade inexistente.
Grupos de infinitas conversas que te apresentam como um número telefônico e que te vinculam a julgamentos extremistas e convictos de erros. Você se coloca em uma virtualidade extremamente real, se irrita e cria conceitos embasados em emojis, áudios e sequentes erros de concordância gramatical.
Não se questiona a proximidade que esses aplicativos sociais proporcionaram a amigos e familiares que não mantinham contato. É interessante alguém que você não vê há tempos te mandar uma mensagem ou um convite de amizade, sinalizando que ainda existe uma consideração. Mas qual é o limite dessa interação?
É uma cena comum vermos pessoas em rodas de amigos interagindo somente com o smartphone, tirando inúmeras fotos e legendando-as em “resenha”, como se tivesse aproveitado de verdade a conversa boca a boca, o contato e o olho no olho. Existe uma ingênua farsa em nós mesmos nessa incessante autoafirmação.
É um amontoado de ações egocêntricas que se sustenta em uma prolixa rotina de inverdades. A impermanência de ideias, sentimentos e costumes está aquém da natural evolução humana. E tal inconstância já se encontra em estudos sociológicos que abordam sobre a impossibilidade humana de criar uma realidade própria sem um conceito de liberdade deturpado por estereótipos comportamentais.
Fortalece essa dissertação o sociólogo Zygmunt Bauman com a sua teoria acerca da Modernidade Líquida, que desenvolve uma análise intrínseca da utopia a qual nos submetemos construir mediante as mudanças Pós-modernas.
Há a interpretação de que o ser humano se considera competente das próprias escolhas e livre para agir sem os preceitos arcaicos da sociedade antiga. Define-se como evoluído. Todavia, que não é racional ou palpável não se enquadra em ser livre, é colocado à margem dos padrões e é colocado como esquerdismo.
Estamos reféns de uma sequência binária. Amarramo-nos a toques de vidro. Expomos as nossas características com obrigação de agradara alguém e dar um “match”. Se virtualize, ou seja, um estranho de si próprio.
Desenvolvido por Sakey Comunicação