IMG_66248123454361Por Élison Santos.

 Constantemente, ouço de meus pacientes a pergunta sobre o que é normal, sobre se a forma com que vivem seus problemas é para as outras pessoas como é para eles. A vida parece acontecer de diferentes formas, em diferentes ocasiões, de acordo com cada pessoa. De tal forma, que cada um parece construir uma nova forma de vida e de normalidade, uma nova forma de enfrentamento, de continência e de superação. Perguntar-se sobre o que é normal é perceber que se está aproximando dos limites, os limites do que é suportável, do que é possível.

Há quem diga que a vida deva seguir padrões sociais, culturais, religiosos, etc. Um dos preceitos jurídicos para se criar ou extinguir uma lei é fundamentar-se nos costumes sociais, ou seja, se um povo cria novos hábitos, estes novos hábitos exigirão novas leis. Hoje, muitas pessoas lutam a favor ou contra muitas leis, mas não podemos esquecer que as leis não fazem as pessoas, mas são as pessoas que fazem as leis.

Ao longo da história pudemos ver o quanto as leis mudaram, quantos costumes deixaram de existir e quantas novas formas de pensamento alcançaram a compreensão do ser humano. Hoje, vivemos um momento histórico em que as tradições parecem ter seus alicerces abalados, o advento das Gerações Y e Z, do mundo globalizado, do avanço das tecnologias de comunicação têm permitido às sociedades modernas terem acesso a novas culturas, novos pensamentos, novas formas de vida. Se outrora era impensável outras formas de construção social, hoje, à um clique, somos capazes de conhecer e compreender muitas outras culturas. Tem sido assim, para os jovens japoneses cuja cultura milenar tem dado espaço para um novo tipo de pensamento, tem sido assim para os jovens chineses, europeus e também para os brasileiros.

 Nas culturas onde a religião predominava no comando das tradições morais, abriu-se espaço para o questionamento racional, as novas gerações não seguem padrões de comportamento que não façam sentido. De tal forma que os padrões de obediência às leis não se aplicam para quem quer entender o por quê da lei.

Vivemos um momento histórico em que os tradicionalistas se confrontam com os novos pensamentos, para muitos, parece que caminhamos para o fim, pois o mundo estaria pior que antes, contudo, caminhamos para um novo tempo. A teoria frankliana ensina que a consciência, quando afinada, é capaz de discernir o que é certo e o que é errado e que a liberdade é uma necessidade para se viver a responsabilidade. Se outrora as sociedades seguiam padrões de comportamento criados e impostos por alguns, hoje, a sociedade que surge quer ter consciência, quer encontrar o sentido em tudo que realizam.

O valor do que é realizado com liberdade e consciência supera em gênero e grau o valor do que é feito por cega obediência e incompreensão. Embora haja diferentes níveis de consciência na sociedade, e por isso são necessárias diferentes formas de leis, é fundamental que o norte seja o da liberdade, do afinar das consciências, da realização de sentido.

Portanto, quando nos perguntamos sobre o que é normal nos deparamos com o que há de mais belo na vida, a fantástica verdade de que somos livres para viver e enfrentar novos paradigmas, estabelecemos para nós mesmos o que conseguimos suportar, até onde podemos ir, mesmo que ninguém a nossa volta tenha vivido tal experiência, suportado tanto ou superado da forma que podemos superar. Quanto mais autênticos formos, mais força daremos aos que nos circundam para que também possam ser tudo que a vida lhes permite ser.

Élison Santos é Psicólogo Clínico, terapeuta de casal, membro da sociedade brasileira de logoterapia, especialista em Análise Existencial e Logoterapia pela PUC Curitiba. É idealizador do grupo de reflexão para mulheres "Compreendendo os homens". Palestrante, comentarista de TV e colunista do site aleteia.org.