Por Fernanda Marques.
Hoje tomei meu café com lágrimas e na minha boca amargava as saudades que sinto da minha mãe.
Fiquei pensando em quantas vezes, desde que me tornei mãe, já escutei a frase “não pause sua vida pelos filhos, pois eles um dia crescem” ou alguma variação dela, repetida, ainda que não intencionalmente, como uma forma disfarçada de escrutinizar e menosprezar a dedicação materna.
Se cria filho para o mundo, todo mundo diz. As asas, as benditas asas. Eu sei, você sabe.
Não pausar a vida. Ideia curiosa essa já que ser mãe é viver eternamente de pausas. Por 9 meses (ou mais) a gente pausa o vinho. Por aproximadamente 40 dias (mas provavelmente bem mais) a gente pausa a vida sexual. Por muitas e muitas noites a gente pausa o sono. A gente pausa a reunião de trabalho, a ligação importante, a promoção. A gente pausa a poupança porque juntar dinheiro fica difícil. A gente pausa as refeições e os banhos. A gente pausa os planos de viagens, as saídas com as amigas, as idas ao cabeleireiro. A gente pausa o coração na preocupação e a gente pausa a própria vida para respirar a deles.
Criar para o mundo. O que isso seria? Suponho que minha mãe me criou “para o mundo”, sempre me dando asas. Saí de casa aos 14 anos e aos 18 saí do país. Fui conquistar esse mundão para o qual ela me criou. Mas a verdade é que eu nunca deixei de ser dela. Tão dela que mesmo com mais de 30 anos, eu ainda preciso que ela pause a vida dela por mim. E ela pausa.
Passa 2, 3 meses aqui, vivendo minha vida. Ela pausa com generosidade de quem é acostumada a pausar e doar e amar e amar e amar.
Então eu penso, enquanto tomo meu café com lágrimas e amargo as saudades que sinto da minha mãe, que filhos não são do mundo. Nossos filhos são nossos! Eles vieram da gente e voltam pra gente de novo e de novo. Mesmo estando longe, eles são nossos. Nossos pedaços. Nossos produtos. Os produtos de todas as nossas pausas. Porque é na pausa que fortalecemos o vínculo, é na pausa que construímos as memórias. É no pausar da vida, nesse incessante viver pelo outro, em meio as dores e sacrifícios que, como mulheres, muitas vezes nos vemos plenas; e mais do que isso, nos vemos mães.
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